18.10.11

Texto lido na Missa de Início de Convívios 2011/2012

Hoje venho falar-vos do Silêncio!! E da sua importância fulcral na música… Mas, mais que isso, na sinfonia das nossas vidas.

Vi, há dias, uma partitura de uma peça escrita por Mozart, com já mais de 200 anos. Era para ser tocada por uma grande orquestra e cantada por um coro, a quatro vozes, e com quatro solistas. Quem estudou música sabe bem que na sua forma convencional, as melodias são registadas através de figuras rítmicas – que marcam o tempo – em pautas, cuja referência – as claves, nos indicam as notas.

Muitos de nós, mesmo os que já não lêem música há muito tempo, ainda se lembram de ouvir falar em mínimas, semínimas e colcheias… E outras tantas!! Mas há outras figuras que não nos lembramos tão bem: as pausas! O curioso, é que numa grande obra como a que tinha nas mãos, ao contar as figuras que nos indicam um som e as figuras que nos indicam um silêncio, as pausas, parecem que se debatem num braço de ferro bem renhido. Realmente, se pensarmos bem, já alguém imaginou como seria uma peça em que todos os instrumentos da orquestra soassem em simultâneo do princípio ao fim?! Se os violinos, os violoncelos, os contrabaixo, as flautas, os oboés, os clarinetes, os fagotes, as trompas, os trompetes, os trombones, as tubas e ainda os xilofones, as caixas, os bombos, os timbales, os címbalos e, não menos importantes, os ferrinhos, não dessem espaço, ou tempo, para todos dizerem de sua justiça como seria…?! Ora, quando não os estamos a ouvir, eles estão em pausa, silenciosamente atentos a todos os instrumentos que com eles compõem a orquestra… E, àquela figura de preto e branco que não toca nada mas que dirige tudo!!

Em 1952, John Cage compôs uma peça que revolucionou a arte do século XX. Chamou-a 4’33’’. Era toda composta por pausas!! Os instrumentos, todos presentes, não soltaram uma nota!! Duvido que a sala estivesse todo esse tempo num silêncio absoluto… Mas, comprovadamente, ninguém ficou indiferente!! Nós, animadores, queremos o mesmo para este ano de Convívios... Proporcionar o tempo e o lugar onde possam fazer uma pausa, um silêncio, para ouvirem quem está à vossa volta, para se ouvirem a vocês e para olharem para aquela figura de quem tantas vezes nos esquecemos porque não toca nada… Dirige tudo!! Focados no essencial, damos início a mais um ano de Convívios e pedimos ao Pai, ao Maestro a sua graça para num silêncio interior tão profundo e sintonizado que nos leva à acção, todos os dias consigamos dar mais um passo para ficar mais perto d’Ele e de quem Ele nos confia.

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